segunda-feira, 25 de abril de 2011

BALADA DAS MENINAS DE REALENGO



Nunca mais desfilarão em Realengo
As modelos que o mal levou.
A passarela está cheia de sangue e o desfile acabou.
Na Escola Municipal Tasso da Silveira
Cultivam-se flores imortais. São Géssicas, são Karines, Marianas e Larissas
São crianças, são meninas
A quem foi dada uma ordem: - “Vira pra parede que eu vou te matar.”
Não vai não. A beleza não morre nunca.

Quem passar por Realengo nesses dias,
Pensará que o bairro está triste com a triste beleza dos subúrbios.
Que o diabo deu as cartas e matou quem quis matar.
Não matou não.
Essas meninas morreram com o belo propósito de nos lembrar nossa própria maldade,
Que há um caminho a percorrer em busca da verdade:
Que somos homens, animais, que matamos uns aos outros,
Que somos pais de meninas tão lindas, Larissas e Laryssas,
Que o diabo não pode matar.

12 morreram. 12 são os apóstolos. 12 as Tribos de Israel.
12 nos julgarão. As 12 crianças mortas nos julgarão.
Ressuscitarão nos Recreios e merendarão nossos corações.
Querem sonhos, querem pão.
Querem Escola Pública de qualidade e ser lembradas em todo abril.
Querem ser respeitadas; querem cantar no Raul Gil.

Vejo Luiza Paula ressuscitada na próxima criança que subir ao palco
Milena Santos Nascimento era “aluna dedicada; nunca faltava a aula”
Meu D’us, quantas Milenas esse pais mata todos os dias!
Quantas Carolines e Samiras amanhã não vão à aula!
Dirão que a culpa é do psicopata
Direi que a culpa é nossa; a culpa é minha

D’us nos deu um Jardim que não sabemos cuidar
D’us nos deu crianças que não sabemos amar
Em nosso estúpido egoísmo, logo as esqueceremos
Seguiremos em frente.
Continuaremos pensando que não são nossas filhas.

Um comentário:

  1. Nessa época eu estava trabalhando próximo e dava pra ver os helicópteros sobrevoando a área... foi muito triste pra todos nós.

    ResponderExcluir